No repertório do show, canções dos discos anteriores da banda, Narcotango (2003) e Narcotango 2 (2006) – cuja versão gravada ao vivo, no ano passado, rendeu ao grupo o Grammy Latino como Melhor Álbum de Tango – acrescidas de temas de Limanueva, disco em que, segundo Carlos, o grupo está mais integrado musicalmente.
– Começamos a trabalhar juntos neste álbum, em termos de composição, arranjos e orquestração. Passamos a improvisar muito e desenvolvemos uma relação muito forte, potencializando a energia criativa de cada um. Agora é o momento de entregar a música ao público – comenta Libedinsky, que, ao lado de Mariano Castro (piano), Marcelo Toth (guitarra) e Fernando Del Castillo (percussão), se apresenta pela terceira vez no Rio. – Vamos apresentar arranjos novos para canções nossas conhecidas, como Otra Luna, Um paso mas alla e Gente que si, com temas novos, como o que dá nome ao disco. Limanueva é uma canção que tem uma mistura com a música brasileira, com referências do samba-reggae da Bahia
Carlos Libedinsky conta que a ideia de acrescentar música eletrônica ao tango tradicional surgiu enquanto participava de um festival de tango em Portugal, cuja programação contava com aulas de dança. Após participar de uma delas, o músico se deu conta de que o tango que se dançava remetia a décadas anteriores à de 50.
– Foi quando senti necessidade de compor tango para dançar, mas com uma roupagem contemporânea, incorporando influências que temos hoje. Na mesma época surgiram grupos na Argentina com a mesma proposta, como o Bajofundo e o Tanghetto. É importante percebermos que essa mistura é uma tendência mundial. Ocorre com o tango, o flamenco, a bossa nova....
A primeira experimentação de Carlos ocorreu em seu disco solo Aldea global. Lançado em 2001, continha tangos tradicionais e composições próprias, com instrumentação conservadora.
– Em duas músicas eu coloquei samplers e gostei do resultado. Vi isso como algo natural, pois todos vivemos hoje imersos em um mundo tecnológico, embora os puristas ainda não tenham se dado conta disso – alfineta Libedinsky. – Claro que existem resistências ao nosso trabalho, pois o tango é conservador por natureza, por isso encaramos as críticas de forma natural. Nossa proposta é fazer com que as novas gerações se interessem pelo tango, e o vejam como algo do presente e não do tempo de seus avós.
Interferências eletrônicas à parte, Carlos diz haver, na atual cena musical argentina, um retorno à música tradicional por parte de jovens músicos com sólida formação acadêmica.
– Tenho visto grupos produzindo músicas de muita qualidade, com apurado senso técnico, propondo um regresso às raízes da música argentina, como o tango e ritmos folclóricos. Um exemplo desse movimento é a banda Aca Seca, voltada para ritmos como a murga, tipo de música carnavalesca da região do Rio da Prata. Apesar da instrumentação tradicional, esse pessoal tem uma dose de contemporaneidade nas letras, harmonias e arranjos. Outra banda que representa esse impulso é a Tata Dios, que mistura tango, folclore e música moderna.
Porém, para Carlos, o que predomina entre os jovens argentinos de hoje ainda são os ritmos estrangeiros.
– Percebo isto na minha escola de música (Tademus). A maioria dos que chegam por lá quer tocar rock, blues e heavy metal. Apenas 10% se interessam por tango. Por isso, nossa ideologia na escola é ampliar ao máximo o horizonte do aluno, mostrando-lhe que há outros ritmos além daqueles ditados pelos meios de comunicação de massa.
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19:56 - 06/05/2010