Apreciação final: 8/10
Edição:
2004
Género: Drama/Romance
A memória, um fiel depositário de
reminiscências, é o mais tangível elo entre o sujeito enquanto ser e a teia de
vínculos que arquitecta com os outros, o espaço e o tempo. Sem ela, perde-se a
porção mais elementar da idiossincrasia do indivíduo, desfazem-se laços,
desmoronam-se momentos. Este filme de Michel Gondry aborda com inteligência a
ténue supremacia das memórias e a irresolução do sujeito face ao ensejo de
apagar imagens não queridas. No fundo, Gondry propõe-nos, pela dedução da força
anamnésica do amor, um ensaio sobre as relações humanas, a irreversibilidade do
sentimento e as repercussões indeléveis do pretérito. Concomitantemente,
mostra-nos com singeleza que, por vezes, o mais acertado remendo para as
omissões do presente jaz algures nas recônditas memórias do passado.
A
densidade do argumento é o diapasão que conduz as brilhantes actuações de Jim
Carrey e Kate Winslet. Carrey no desempenho mais exigente da sua carreira,
também o mais distante do registo costumeiro, demonstra inequivocamente aptidões
só afloradas em Truman Show e The Majestic, acercando-se da
ribalta que reclama para si - merecerá a atenção da Academia de Hollywood desta
vez? Por seu lado, Winslet cativa o espectador, num desempenho que secunda com
propriedade o de Carrey, verdadeiramente intenso e genuíno. Uma nota ainda para
a presença de Elijah Wood, Kirsten Dunst e, acima destes, um actor com uma
ascensão prometedora e cujo nome convém reter: Mark Ruffalo.
O
Despertar da Mente é um filme comovente - não no sentido lamecha do termo -
cujo mote toca a todos e apela a uma reflexão interior sobre o valimento da
condição humana, vertido na natureza dos seus afectos e na insuficiente ciência
da memória. Sem dúvida, um dos melhores títulos de 2004.